O que
caracteriza um ato terrorista? Infiltrar uma rede de espionagem em um
país para tentar evitar ataques terroristas a sua nação é um ato de
contra terrorismo ou de terrorismo? Bem, de acordo com o livro
"Os Últimos Soldados da Guerra Fria" do multipremiado jornalista
Fernando Morais, depende do referencial. Se o país que infiltra agentes em uma
nação inimiga para evitar um ataque terrorista a sua pátria for os
Estados Unidos, isso é contra terrorismo. Já se o referencial for Cuba, é ato
terrorista sim. Partindo dessa premissa, Fernando Morais faz uma análise
de como que as organizações Anticastristas radicadas nos EUA(mais precisamente no estado da Flórida) patrocinam atentados
contra o Regime em Havana, contando em muitas vezes com a cumplicidade ou com a
negligência do governo estadunidense. Sendo assim, o governo cubano no início
da década de 90, acaba por infiltrar um grupo de agentes (Rede VESPA) que
se instalam nessas organizações que agem
contra o regime cubano para alertar Cuba e evitar que ocorram ataques ao país.
Fernando é hábil ao retratar a vida de cada um desses agentes, desde suas vidas
pessoais, até o momento em que fingem desertar da ilha comunista, abdicando de
tudo em nome do país. Sim, eles não podem contar a verdade nem mesmo pra
própria família. Fugindo do clichê dos filmes, onde os espiões quase sempre
levam uma vida de luxo e de “aventuras”, os espiões da rede VESPA têm de
enfrentar uma jornada de trabalho pesada nos EUA e muitas vezes, passando por
privações econômicas e sociais. Apesar de o referido autor ser um militante
ferrenho do regime Castrista, o tom da sua narrativa não deixa de esconder os
problemas e as disputas do regime comunista em lidar com a rede VESPA e as
organizações antigoverno nos EUA. Aliás, o livro tenta mostrar a todo o momento
(com documentos e fotos que provam o que é retratado) que existe uma grande hipocrisia e um imenso
desconhecimento ao se tratar do caso sempre do ponto de vista estadunidense. A
arrogância e a falta de isonomia do país presidido na época por Bill Clinton ao
lidar com o processo é absurda. E as comparações com a ocupação e a violação da
soberania dos países “ocupados” pelos EUA no Oriente Médio é latente. Contando
com um desfecho bastante forte e que nos deixa perplexos pela falta de justiça,
o livro retrata a espionagem sobre um ponto de vista muito mais humanista do
que ufanista. Um ótimo livro sobre como a ideia de Terrorismo não passa de um
ponto de vista.
8 Estrelas em 10
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