sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A importância da Cópia; uma análise crítica do Filme "Cópia Fiel" de Abbas Kiarostami


Texto escrito e apresentado na disciplina "Geografia Aplicada ao Turismo" pela aluna Beatriz Figueiredo Neto Assis. 

 Na última sexta feira, dia 30 de novembro, assistimos ao filme “Cópia Fiel”, dirigido por Abbas Kirostami e tendo como personagens principais, Elle (Juliette Binoche) e James(William Shimell.
 Durante a sua apresentação, alguns pontos serviram como base para nossa análise, sendo que estes nortearam, em até certo ponto, a nossa opinião crítica sobre o assunto e sobre o enredo.
 O filme se inicia com a apresentação do personagem masculino, como sendo um autor britânico que vai até a Cidade de Arezzo para divulgar o seu livro. Nessa apresentação se encontra Elle, uma mulher que juntamente com o filho pré-adolescente vai à palestra de James, mas que rapidamente tem que ir embora, devido à insistência do garoto. No entanto, antes de ir ela deixa um bilhete com o organizador do evento, onde pede para que o autor a encontre no dia seguinte em sua galeria. Entre o espaço de tempo entre tais acontecimentos, podemos observar a relação da protagonista com o primogênito, que mesmo maduro para a idade, não consegue manter um diálogo concreto com a mãe, que o trata com certa distância.  Ainda nesse mesmo espaço de tempo, conseguimos perceber traços da personalidade de Elle, uma mulher desleixada, desorganizada, que gosta de viver em locais escuros e que demonstram a sua não familiaridade com o ambiente externo.
 O dia do encontro chega e James aparece na galeria da mulher, e se assusta com o aspecto sombrio do lugar, tanto que insiste em sair para tomar um café com esta. É a partir daí que a história começa a se desenrolar.
 Dentro do carro, os protagonistas conversam, e o interesse da mulher no outro fica evidente, contudo, não é apenas isso que fica evidente. É possível perceber que Elle não se sente pertencente à cidade, mesmo vivendo lá há cinco anos, uma vez que não se identifica com os hábitos da sociedade, e nem com a forma como esta leva e vê a vida. A paisagem, pouco a importa, as belezas naturais e artificiais do local não chamam a sua atenção, no entanto, quando o assunto é o trânsito, ou ainda a forma como tal pessoa se comporta, a personagem parece criar uma barreira que a impede de aceitar o que o outro diz, ou como a cidade funciona, visto que só consegue compará-la com a sua cidade natal na França.
 É no meio desse conflito interno, entre o pertencer e o não pertencer, que a mulher tenta apresentar a cidade a James, mas infelizmente não consegue, uma vez que as suas discussões o impedem de apreciar a verdadeira arte. Pode-se perceber que no filme a paisagem natural reflete a uma calmaria que só fica do lado exterior das janelas, uma vez que dentro do carro, o clima é pesado. Contudo, nos breves momentos de visão, o protagonista se depara com uma estrada cercada de campos abertos, verdes e belos, e se surpreende com tamanha beleza.
 Mesmo com tanto a oferecer, a paisagem deixa de ser observada da forma que realmente merece, uma vez que a personagem feminina não se identifica com ela, logo não tem interesse em divulgá-la para o outro, mesmo James desejando o contrário. Tal ponto, entristece Elle que percebe o desinteresse de James por suas histórias e seu ponto de vista, o que serve apenas para distanciar os personagens.
 Os personagens, que estavam no carro, durante toda essa análise, param em um ponto turístico, onde o público alvo são os noivos e os recém-casados, ou talvez pessoas que estão fazendo uma segunda lua de mel. Assim que eles chegam ao local, a primeira coisa que o espectador pode ver são as noivas que caminham em direção à igreja ou que saem dela, o que pode ser entendido como um desejo, consciente ou não, de Elle em se unir ao homem.
 Esse desejo, de se unir ou de ter aquilo que o outro tem, se comprova durante todo o filme, uma vez que esta se mostra nostálgica e triste sempre que vê outro casal alegre. É neste clima de amor e festa, que os personagens, após terem sido confundidos como sendo um casal, entram em um complexo jogo, que hora parece ser atuação (cópia), ora parece ser realidade (original).
 Agora, ambos são ou encenam ser um casal em crise, que briga pelas coisas mais simples e que não conseguem manter uma relação de proximidade. É nesse momento que o desejo de Elle no amor daqueles que a cercam se mostra maior e mais claro, visto que essa está a todo o momento olhando para os jovens apaixonados e se perguntando, internamente, o que deu errado no seu  relacionamento e o porquê de ter dado errado. James, que a essa altura já é ou incorporou o marido, se enfurece com a obsessão da mulher no amor e na felicidade dos outros, e isso culmina em outra briga, dentro de um restaurante, após a “esposa” ter se arrumado toda, esperando algo inesquecível.
 O turismo no filme, não é abordado no sentido de que os personagens viajam para lá com determinado objetivo ou motivação, mas no sentido em que o turismo representa a visão, o desejo e os próprios sentimentos da personagem principal, o que faz com que os turistas, o turismo, e toda a sua cadeia sirvam como um reflexo interno da alma e da mente da própria Elle.
 O filme segue, mostrando que a distância entre o casal continua, só que dessa vez, quem insiste em se afastar é a mulher, que se encontra magoada e machucada pelas duras e brutas palavras e ações do “marido”. Para finalizar, com chave de outro, e também para confundir ainda mais o espectador, o longa mostra em seus minutos finais, que existe, ou existiu, algum tipo de relacionamento entre os personagens, já que eles conhecem os hábitos uns do outro, além de já terem viajado para aquele mesmo local em sua lua de mel. Contudo, a grande dúvida fica para o fim, que retrata um James indeciso e em conflito, que não sabe se fica ou vai embora para a Inglaterra no trem das nove, e que termina por sair do banheiro, deixando a questão no ar, uma vez que o filme termina assim.
 Uma obra inteligente e perspicaz que pode parecer maluca e sem sentido para uns, mas que é verdadeiramente brilhante.
 Inicialmente, nos deparamos com uma mulher fria e distante do filho, que aparenta ser imatura, louca, desleixada, desorganizada, e em certos momentos até meio psicótica e essa opinião dura por muito tempo, mesmo depois dela  já ter se encontrado com James. É durante as conversas no carro, que identificamos outra característica da mulher, a de ser extremamente voltada para a visão original e não simples da vida, além de perceber que essa está tentando impressionar o homem, principalmente quando esta o leva para ver a pintura que poderia ser referente à Mona Lisa.
 Tal opinião se fortalece quando Elle começa a fingir um relacionamento com James, pois aí, temos certeza de que ela não passa de uma mulher louca e com uma imaginação muito forte, e até nos sentimos solidarizados com o homem, que parece não entender a seriedade do problema da mulher, em insistir que há um relacionamento entre eles. No entanto, quando James começa a aceitar o papel, e se apresenta como um marido ausente e rancoroso, a confusão entre o que de fato é encenação e o que não é, deixa-nos confusos.
 Qual seria então a verdade? Eles estariam atuando, ou realmente eram casados? O filme deixa todas essas perguntas no ar, fazendo com que nós, espectadores, sejamos forçados a criar a nossa própria opinião, baseada em fatos verídicos ou não. Dessa forma, o diretor cria uma rede complexa, deixando o dilema e as perguntas sem repostas, exatamente como Machado de Assis no livro Dom Casmurro, onde a eterna questão “Capitu, traiu ou não traiu?” fica no ar, esperando por algo que possa resolvê-la.
 Inúmeras possibilidades podem surgir desse convívio, mas a que consideramos mais reais foram: eles eram apenas duas pessoas atuando ou eles realmente eram casados. Optamos por aceitar a segunda hipótese, uma vez que a troca de ideias existentes entre os personagens é óbvia, principalmente quando Elle afirma para a dona da cafeteria que o marido se barbeava de dois em dois dias, e James mais tarde afirma isso. O que faz com que indaguemos: Como ela poderia saber disso se não eram casados?
 Acreditamos, porém, que a verdadeira afirmação de que a atuação é a realidade, aparece no fato de Elle não querer revelar o sobrenome do filho para James, e nem de querer divulgar o sobrenome deste para os outros. Esta queria que ele fosse até ela de forma natural, sem saber de quem se tratava, e com o sobrenome ele poderia identifica-la. Outro forte indício é o hotel que eles disseram ter passado a noite, o hotel poderia ser atuação também? Se fosse, como eles saberiam da existência do quarto?
 Todos esses pequenos detalhes podem ser a chave da questão. Mas, um fato que não pode ser ignorado é: E se todo o começo não tiver passado de atuação e a realidade é aquele que ambos estão vivendo? Tal questão quebraria e inverteria a ordem de tudo, o que, nessa lógica de confundir do filme, poderia fazer todo o sentido.
 Em alguns casos, no entanto, o filme pode ser facilmente entendido, como no fato de Elle passar batom vermelho e colocar brincos para se sentir bonita e para agradar a James, tal ato demonstra que ela se preocupa com a aparência, o que também serve para desmentir a opinião que tínhamos no começo, sendo que isso pode mostrar que o começo não era real.
 Por fim, acreditamos que James foi de fato para a Inglaterra no trem das nove, pois para ele ficar teria que mudar o seu estilo de vida, mesmo que fosse somente à relação em fazer a barba, contudo, antes de sair do banheiro ele não a faz, o que dá a entender que não pretende mudar o seu estilo de vida e nem se dar bem com a mulher.
 O que torna o filme tão incrível e inteligente é o fato de o diretor desenvolver a nossa própria linha de pensamento, afirmando que o que importa é a observação da obra, e não essa em si, coisa que a todo o momento os protagonistas discutem. Além disso, a atuação de Juliette Binoche faz com que o longa tome proporções maiores, devido a sua belíssima interpretação.

James: “Receio não haver nada de simples em ser simples”.












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