segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Borgen a arte de se fazer política


 Nos últimos anos, o mundo tem visto a Dinamarca com ótimos olhos em relação à produção de filmes e de séries e os mesmos vêm conquistando o mundo. A qualidade dos enredos e das narrativas tem feito com que filmes “danos” venham ganhando espaço no disputado mercado de audiovisuais. Hoje, vou escrever sobre a série política dinamarquesa “Borgen” (Castelo em dinamarquês e que se refere à sede dos 3 poderes do país nórdico). Exibida pela BBC, a série virou febre e chegou inclusive a conquistar o BAFTA (Oscar britânico) de melhor série estrangeira. Atualmente, a série se encontra em sua terceira e última temporada, exibida somente na Dinamarca, mas com previsão de exibição pela BBC no ano que vem. Adotando uma narrativa baseada na ideia de mostrar a política e os políticos como seres “comuns”, a série se destaca nos diálogos inteligentes e no desenvolvimento de temas e disputas politicas de forma bem ampla e que são definidos devido a uma série de arranjos e de variações.
 Séries políticas costumam ter pouca visibilidade nos grandes canais de televisão, mas desde sempre me atraíram. Infelizmente, poucas conseguem retratar bem o processo político através da linguagem do audiovisual. Algumas pecam por não representar bem o cenário político de um país ou de um mundo específico e acabam caindo em erros comuns. Um exemplo mais recente disso é a minissérie exibida pela Globo  chamada “Brado Retumbante”, onde o presidente da Câmara dos Deputados assume o executivo do país após a morte do presidente e do vice- presidente.  Com uma premissa que me pareceu interessante, assisti o primeiro episódio e para o meu espanto, os roteiristas cometeram um erro primário já na morte do presidente e do vice-presidente; Ambos embarcaram à noite de uma plataforma de petróleo no mesmo helicóptero,o que é imperdoável. Presidente e vice nunca podem utilizar o mesmo veículo por questões óbvias. Recentemente, um amigo me indicou a série dinamarquesa “Borgen” e desde então, me tornei um admirador dela. O enredo mostra a eleição da primeira Primeira Ministra do país, depois que o Primeiro Ministro se envolve em uma polêmica com o uso de dinheiro público pra pagar gastos de sua esposa e renuncia ao cargo. Depois de muitos conchavos e de disputas, o partido moderado consegue montar um governo de centro esquerda, junto aos partidos do Trabalho e da Solidariedade e assim, passam a ter maioria no legislativo para garantir governabilidade a Primeira Ministra. Idealista, progressista, uma mulher apaixonada pelo marido e por seus 2 filhos,Birgitte é retratada pela série como uma mulher  como qualquer outra. Ancorada no jovem e talentoso jornalista Kasper (seu “Spin Doctor”), passa a enfrentar uma vida tripla como mãe, esposa e Chefe de Estado de uma das nações mais ricas do mundo, além de enfrentar também, a fúria da imprensa do país, em especial de um tabloide sensacionalista. Como um paralelo a trajetória de Birgitte, passamos também a acompanhar a vida da talentosa e também idealista Katrine, uma jornalista política que preza pela ética e pelo bom jornalismo. Birgitte, Kasper e Katrine são os pilares que sustentam a narrativa da série. Apesar de possuir uma forma de governo totalmente diferente da nossa (uma Monarquia Constitucional) e de ter um nível social muito mais avançado, é incrível a semelhança do ambiente político dinamarquês com o brasileiro. Também é interessante perceber que a sociedade dinamarquesa possui problemas estruturais bastante parecidos com os nossos. Questões como privatização da saúde, corrupção e o lobby empresarial, além de ataques midiáticos parecem se espelhar na sociedade brasileira. Mas no fim é só política. A prática política é a mesma, não importa qual a sociedade ela se encontre. A série adota uma questão temática, ou seja, cada episódio aborda um tema específico que deve ser enfrentado pela Primeira Ministra. Temas como Guerra do Afeganistão, disputas entre os partidos governistas, manobras da oposição para atrapalhar sua governabilidade, lobby de empresários contra práticas do governo, disputas econômicas na Groelândia (território associado à Dinamarca) dentre outros temas são discutidos ao longo das 2 temporadas com 10 episódios cada de forma bem didática e crítica, buscando mostrar ao espectador que na política ,são os interesses que prevalecem. Cabe ressaltar também os conflitos do âmbito privado, como brigas com o marido, falta de tempo para os filhos e a questão do preconceito de gênero que ela enfrenta. Outros personagens como Kasper e Katrine também tem destaque em seus conflitos pessoais que são desenvolvidos de maneira bem orgânica. Tecnicamente, muito bem feita e com um bom uso da linguagem do cinema, a série é capaz de nos fazer pensar e avaliar como é difícil conciliar demandas políticas e sociais mesmo em um país tão desenvolvido como a Dinamarca. Dilemas enfrentados pelas personagens que podem parecer imorais aos olhos do que estão de fora apenas observando, mas que são essenciais para o bem comum da nação e para o entendimento de o quão complexo é a governabilidade. Enfim, posso dizer que me emocionei e que aprendi muito assistindo “Borgen” e recomendo. Sem falar que é possível traçar um paralelo com o Brasil.

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