Nos últimos anos, o mundo
tem visto a Dinamarca com ótimos olhos em relação à produção de filmes e de
séries e os mesmos vêm conquistando o mundo. A qualidade dos enredos e das narrativas
tem feito com que filmes “danos” venham ganhando espaço no disputado mercado de
audiovisuais. Hoje, vou escrever sobre a série política dinamarquesa “Borgen” (Castelo
em dinamarquês e que se refere à sede dos 3 poderes do país nórdico). Exibida
pela BBC, a série virou febre e chegou inclusive a conquistar o BAFTA (Oscar
britânico) de melhor série estrangeira. Atualmente, a série se encontra em sua
terceira e última temporada, exibida somente na Dinamarca, mas com previsão de
exibição pela BBC no ano que vem. Adotando uma narrativa baseada na ideia de
mostrar a política e os políticos como seres “comuns”, a série se destaca nos
diálogos inteligentes e no desenvolvimento de temas e disputas politicas de
forma bem ampla e que são definidos devido a uma série de arranjos e de
variações.
Séries políticas costumam
ter pouca visibilidade nos grandes canais de televisão, mas desde sempre me
atraíram. Infelizmente, poucas conseguem retratar bem o processo político
através da linguagem do audiovisual. Algumas pecam por não representar bem o cenário
político de um país ou de um mundo específico e acabam caindo em erros comuns.
Um exemplo mais recente disso é a minissérie exibida pela Globo chamada “Brado Retumbante”, onde o presidente
da Câmara dos Deputados assume o executivo do país após a morte do presidente e
do vice- presidente. Com uma premissa
que me pareceu interessante, assisti o primeiro episódio e para o meu espanto,
os roteiristas cometeram um erro primário já na morte do presidente e do
vice-presidente; Ambos embarcaram à noite de uma plataforma de petróleo no
mesmo helicóptero,o que é imperdoável. Presidente e vice nunca podem utilizar o
mesmo veículo por questões óbvias. Recentemente, um amigo me indicou a série
dinamarquesa “Borgen” e desde então, me tornei um admirador dela. O enredo
mostra a eleição da primeira Primeira Ministra do país, depois que o Primeiro Ministro
se envolve em uma polêmica com o uso de dinheiro público pra pagar gastos de
sua esposa e renuncia ao cargo. Depois de muitos conchavos e de disputas, o
partido moderado consegue montar um governo de centro esquerda, junto aos
partidos do Trabalho e da Solidariedade e assim, passam a ter maioria no
legislativo para garantir governabilidade a Primeira Ministra. Idealista,
progressista, uma mulher apaixonada pelo marido e por seus 2 filhos,Birgitte é
retratada pela série como uma mulher
como qualquer outra. Ancorada no jovem e talentoso jornalista Kasper (seu
“Spin Doctor”), passa a enfrentar uma vida tripla como mãe, esposa e Chefe de
Estado de uma das nações mais ricas do mundo, além de enfrentar também, a fúria
da imprensa do país, em especial de um tabloide sensacionalista. Como um
paralelo a trajetória de Birgitte, passamos também a acompanhar a vida da
talentosa e também idealista Katrine, uma jornalista política que preza pela
ética e pelo bom jornalismo. Birgitte, Kasper e Katrine são os pilares que
sustentam a narrativa da série. Apesar de possuir uma forma de governo
totalmente diferente da nossa (uma Monarquia Constitucional) e de ter um nível
social muito mais avançado, é incrível a semelhança do ambiente político
dinamarquês com o brasileiro. Também é interessante perceber que a sociedade
dinamarquesa possui problemas estruturais bastante parecidos com os nossos.
Questões como privatização da saúde, corrupção e o lobby empresarial, além de
ataques midiáticos parecem se espelhar na sociedade brasileira. Mas no fim é só
política. A prática política é a mesma, não importa qual a sociedade ela se
encontre. A série adota uma questão temática, ou seja, cada episódio aborda um
tema específico que deve ser enfrentado pela Primeira Ministra. Temas como
Guerra do Afeganistão, disputas entre os partidos governistas, manobras da
oposição para atrapalhar sua governabilidade, lobby de empresários contra
práticas do governo, disputas econômicas na Groelândia (território associado à
Dinamarca) dentre outros temas são discutidos ao longo das 2 temporadas com 10
episódios cada de forma bem didática e crítica, buscando mostrar ao espectador
que na política ,são os interesses que prevalecem. Cabe ressaltar também os
conflitos do âmbito privado, como brigas com o marido, falta de tempo para os
filhos e a questão do preconceito de gênero que ela enfrenta. Outros
personagens como Kasper e Katrine também tem destaque em seus conflitos
pessoais que são desenvolvidos de maneira bem orgânica. Tecnicamente, muito bem
feita e com um bom uso da linguagem do cinema, a série é capaz de nos fazer
pensar e avaliar como é difícil conciliar demandas políticas e sociais mesmo em
um país tão desenvolvido como a Dinamarca. Dilemas enfrentados pelas
personagens que podem parecer imorais aos olhos do que estão de fora apenas
observando, mas que são essenciais para o bem comum da nação e para o
entendimento de o quão complexo é a governabilidade. Enfim, posso dizer que me
emocionei e que aprendi muito assistindo “Borgen” e recomendo. Sem falar que é
possível traçar um paralelo com o Brasil.
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